Capão da Canoa - RS

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domingo, 5 de junho de 2011

PECADOS MORTAIS DA DISSERTAÇÃO


1. LETRA ILEGÍVEL
VESTIBULARES E CONCURSOS  -  Aplica-se este item à dissertação exigida nos concursos, cuja composição é feita de forma manuscrita.
DECIFRANDO A ESCRITA  -  Não se consegue valorizar ou admirar o que é incompreensível. O professor encarregado da avaliação tem tempo estipulado para concluir o trabalho de correção. Não pode, pois, perder tempo tentando adivinhar (às vezes decifrar) o que o candidato escreveu. Não se exige do redator letra bonita; exige-se letra legível, de fácil compreensão.
SOLUÇÃO  -  Depois de uma certa idade, é quase impossível mudar totalmente o aspecto da letra. Mas é possível melhorar atentando para o formato de algumas delas. Às vezes, a leitura torna-se difícil por causa do "m", do "n" e do "u" que se confundem no papel. Outras vezes, o "l" e o "t" são grafados de tal forma (ou tamanho) que atrapalham a compreensão das palavras. Uma vez identificado o problema, deve-se escrever com mais apuro, principalmente quando se produz texto para ser avaliado por alguém.
2. FUGA DO ASSUNTO
SEM PERDÃO -  É, com certeza, o pior deslize numa dissertação. Se o trabalho vale nota, a fuga do tema conduz ao zero por falta de adequação entre o texto ou título proposto e as idéias expostas pelo candidato. Escrever fugindo do assunto sugere:
1. Falta de planejamento sobre o que se escreveu;
2. Pouca capacidade de concentração;
3. Incapacidade de delimitação do assunto;
4. Desvio intencional para tópicos decorados previamente.
FUGA PARCIAL -  Às vezes, os rodeios, a preparação excessiva para finalmente falar-se do tema constituem fugas parciais que, dependendo de quem está avaliando o trabalho, também conduzem ao zero. O tema Violência Urbana pode virar livro nas mãos de escritor habilidoso. O que se quer do aluno é apenas uma dissertação de, no máximo, trinta e cinco linhas. Falar de Abel e Caim, da violência praticada em Roma à época dos Césares é fugir do assunto porque não há espaço (nem tempo) para tantos dados. O melhor caminho é falar da violência urbana hoje, suas causas, conseqüências e, se possível, soluções para o problema abordado.
SOLUÇÃO -  É preciso organizar-se didaticamente para escrever bem. A elaboração de rascunho, enumerando tópicos como "causas", "conseqüências", "soluções", "idéias contra" ou "a favor" ajuda a manter-se fiel ao tema, além de garantir uma seqüência lógica para a dissertação.
3. USO DE GÍRIAS
LINGUAGEM FORMAL -  No texto narrativo, a gíria é, em certos momentos, perfeitamente cabível. Às vezes, faz parte dos traços individuais da personagem. No dissertativo, porém, é um desastre. Isso porque a dissertação exige uma linguagem formal, não necessariamente erudita, mas pelo menos bem-elaborada. Veja expressões que não têm espaço em dissertações:
1. Esses caras.
2. Saia dessa.
3. O meganha.
4. Esse papo não cola.
5. Gente da pesada.
6. Pra cima de mim, não.
7. Muito legal.
8. Não enche.
9. Maneiro.
10. Estou noutra.
11. O maior barato.
12. Mina.
13. Cada um na sua.
14. Tudo em cima.
15. Bicho.
16. Tudo em riba.
SOLUÇÃO -  O uso de gírias em textos dissertativos só acontece, pela lógica, com os adolescentes. Pessoas adultas têm um senso de "correção" mais apurado quando se trata de texto escrito.
4. PROVÉRBIOS, FRASES FEITAS E DITOS POPULARES
LUGAR-COMUM -  As frases feitas, os provérbios, os ditos que estão na boca de todo mundo empobrecem a redação, fazem parecer que o autor não tem criatividade. Veja expressões que você deve evitar.
1. Para iniciar a redação (primeira linha do primeiro parágrafo):
- Atualmente...
- Antigamente...
- Hoje em dia...
- Nos dias de hoje...
- No mundo de hoje...
- No mundo em que vivemos...
- Desde os primórdios da nossa existência...
- Para início de conversa...
- Iniciando o meu trabalho...
- Dando início à minha redação...
OBSERVAÇÃO: As expressões acima podem ser usadas no corpo dos parágrafos sem que isso implique lugar-comum.
2. Para iniciar o último parágrafo da redação:
- Finalizando o meu trabalho...
- Concluindo...
- Resumindo tudo o que eu disse antes...
- Em síntese...
- Em resumo...
- Arrematando tudo com chave-de-ouro...
- Para finalizar...
3. De modo geral:
- Como já dizia meu avô...
- A esperança é a última que morre...
- Quem avisa amigo é...
- Quem espera sempre alcança...
- Deus dá o frio conforme o cobertor...
- Quem trabalha Deus ajuda...
- Deus ajuda quem cedo madruga...
- Dar a volta por cima...
- Agradar a gregos e troianos...
- Chegar a um denominador comum...
- Colocando um ponto final...
- De mão beijada...
- De vento em popa...
- Depois de um longo e tenebroso inverno...
- Do Oiapoque ao Chuí...
- Ensaiar os primeiros passos...
- Faca de dois gumes...
- Fazer das tripas coração...
- Passar em brancas nuvens...
- Pôr a casa em ordem...
- Pôr as barbas de molho...
- Pôr a mão na massa...
- Procurar chifre em cabeça de cavalo...
- Tábua de salvação...
- Tirar o cavalo da chuva...
OBSERVAÇÃO: As expressões acima podem ser empregadas coerentemente, desde que predomine a criatividade. Às vezes, os lugares-comuns denotam ironia. Nesse caso, ao invés de depreciar, valorizam o texto em que se inserem.
5. INCLUIR-SE NA DISSERTAÇÃO
INDECISÃO -  Dissertar é emitir sua visão (crítica, de preferência) sobre um assunto proposto. É analisar, de modo impessoal e com total objetividade. Mas o que fazer diante de temas subjetivos ou pessoais? Não se pode condenar o emprego do "eu" ou do "nós" em dissertações bem estruturadas. O que acontece, às vezes, é o uso de tais pronomes sem argumentação que os justifique. Ao invés de mostrar firmeza e segurança, o aluno passa ao examinador a idéia de indecisão e de fraqueza.
EXPRESSÕES PESSOAIS -  Outro aspecto negativo é a mistura de problemas pessoais ou particulares com a problemática sobre a qual se está dissertando. Aconselha-se, pois, que o candidato evite o uso das expressões seguintes. Se forem empregadas, entretanto, de forma adequada, no momento certo, podem estar certas e ser valorizadas pelo examinador.
1. Na minha opinião...
2. No meu entender...
3. Ao meu ver...
4. No meu ponto de vista...
5. Eu vejo por mim mesmo...
6. Como já aconteceu comigo...
7. Isto é o que eu penso...
8. Conforme a minha visão do mundo...
9. Eu acho...
10. Eu imagino que...
SOLUÇÃO -  Deve-se adotar na dissertação uma atitude crítica, dizendo verdades universais, aplicáveis a todos. A questão pessoal soa como depoimento, e dissertar exige mais que isso: tem-se que argumentar, sustentando idéias que convençam.
6. JAMAIS MISTURAR DISSERTAÇÃO COM RELIGIÃO
ARGUMENTAÇÃO -  A dissertação é baseada sempre na argumentação cuja base é a lógica. Misturá-la com questões de fé é inconcebível, pois os dogmas religiosos, os preceitos e as crendices independem de provas ou de evidências constatáveis. Veja algumas construções que denotam fanatismo e exagero por parte de quem as usa:
1. A solução para a violência urbana está em Jesus Cristo, nosso salvador.
2. Freqüentar a igreja regularmente e confessar-se uma vez por semana: é o conselho que dou para quem está passando por conflitos familiares.
3. O conflito pela terra só acontece no Brasil por falta de leitura da Bíblia. Tanto o Velho quanto o Novo Testamento trazem ensinamentos que, se aplicados ao campo brasileiro, resolveriam o problema da Reforma Agrária.
4. Se todos seguissem este ensinamento simples de Jesus, "ama o próximo como a ti mesmo", não haveria menores abandonados. Antes de cultura e de educação, o povo brasileiro precisa mistificar-se, aceitar Jesus como salvador universal. Aí, sim, todos os problemas de injustiças serão resolvidos.
SOLUÇÃO -  Não se deve valer, em nenhuma hipótese, de crendices ou dogmas para compor dissertações. Os aspectos místicos ou esotéricos não combinam com visão crítica.
7. EVITAR EMOÇÕES EXAGERADAS
EMOÇÕES PESSOAIS  -  Às vezes, o tema que se está explorando na dissertação engloba problemas e/ou situações pelos quais o escrevente já passou (ou está passando). Nesse caso, deve-se evitar as emoções pessoais. Elas denotam revolta, e o registro no papel pende para o exagero. Veja algumas construções que depreciam a dissertação:
1. Os autores do último pacote econômico deveriam ser exterminados, um a um, pelo mal que fizeram à economia do Brasil.
2. Pessoas como essas, que estupram e matam, devem arder para sempre no fogo do inferno.
3. Morte aos monstros que assaltam e roubam em nome do progresso...
4. Esses criminosos amaldiçoados devem apodrecer na cadeia por séculos sem fim...
5. A morte é castigo muito pequeno para quem estupra e mata...
6. Criminosos assim não merecem a pena de morte. Merecem uma doença incurável, que provoque o apodrecimento lento do corpo e da alma...
7. Pessoas assim não devem morrer. Devem ficar presas para sempre, mesmo depois de mortas, para que suas almas não cometam crimes por aí.
8. Os políticos brasileiros, eleitos pelo povo, não diferem muito dos bandidos que ocupam vaga nas penitenciárias. Só que estes não tinham autorização para roubar; aqueles têm o aval da população.
8. EVITAR ABREVIAÇÕES E NÚMEROS
CARÁTER DIDÁTICO  -  O caráter didático da dissertação poda inovações e vícios próprios da pressa ou do desleixo. Por isso, as expressões numéricas devem ser escritas por extenso, e as abreviações devem ser usadas com cautela, até pelo aspecto de correção gramatical. Poucos têm segurança no momento de abreviar determinadas palavras. Veja exemplos que a norma condena:
1. O vestibular é injusto e ñ (não) mede capacidade de ninguém.
2. É c/ (com) desespero que vejo o aumento da criminalidade no Brasil.
3. Faz-se necessária uma reforma profunda no ensino p/ (para) q/ (que) se possa exigir mais do aluno brasileiro.
4. Nos E.U.A. (Estados Unidos) a ecologia é mais respeitada do que no Brasil.
5. O jovem tb (também) tem consciência dos problemas do seu país, principalmente qdo (quando) é chamado a exercer seu direito de voto.
6. Nas últimas eleições, no Amazonas, alguns eleitores tiveram que andar mais de 50 km (cinqüenta quilômetros) para votar.
7. É impossível fazer uma redação bem estruturada em apenas 4 hs. (quatro horas) de prova.
9. EVITAR REPETIÇÕES
CARÁTER DIDÁTICO  -  A repetição (quer da idéia, quer da mesma palavra) causa impressão desagradável a quem lê e sugere pobreza de vocabulário. Faz-se mister, nesse caso, o uso de sinônimos adequados. Veja construções erradas; compare-as com o modelo correto.
1. ERRADO  -  A poluição, por sua vez, prejudica qualquer tentativa de desenvolvimento, pois o desenvolvimento só consegue beneficiar o homem se estiver dissociado da poluição.
    CERTO  -  A poluição, por sua vez, prejudica qualquer tentativa de desenvolvimento, pois as inovações só conseguem beneficiar o homem se estiverem dissociadas de qualquer aspecto maléfico.
2. ERRADO  -  A inflação gera desemprego; para combater a inflação, o governo deve atacar o déficit público e abaixar as taxas de juros, pois com juros tão elevados, os ricos é que se beneficiam do fenômeno da inflação.
    CERTO  -  A inflação gera desemprego; para combatê-la, o governo deve atacar o déficit público e abaixar as taxas de juros, pois é sabido que o fenômeno inflacionário beneficia os ricos e prejudica os pobres.
3. ERRADO  -  A imagem que se faz do Brasil hoje é de que estamos passando por um período de euforia. Esta euforia que tomou conta do Brasil e dos brasileiros faz com que fiquemos cegos, sem o senso crítico que nos conduz à identificação e à solução de problemas que nos afligem, mesmo quando tudo parece normal.
    CERTO  -  O Brasil hoje exibe a imagem de que estamos passando por um período de euforia. O otimismo tomou conta do Brasil e dos brasileiros, tornando-os cegos, sem o senso crítico que nos conduz à identificação e à solução de problemas aflitivos, mesmo quando tudo parece normal.
4. ERRADO  -  A violência urbana nasce com os programas de televisão. Há tanta violência na televisão que as crianças crescem em contato direto com a violência. Quando adolescentes, elas querem aplicar na rua ou na escola a mesma violência que aprenderam nos programas de televisão.
    CERTO  -  A violência urbana nasce com os programas de televisão. Há tanto exagero nos programas exibidos para crianças que elas crescem achando normais as atitudes agressivas. Quando adolescentes, elas querem aplicar na rua ou na escola aquilo que absorveram nos programas televisivos.
10. INOVAÇÕES NA CALIGRAFIA
LETRA GRANDE  -  Numa dissertação de, no mínimo, vinte linhas, se a letra do aluno é muito grande, esse mínimo deve ser ampliado para vinte e cinco, trinta linhas. A razão é óbvia: muitos alunos aumentam a letra para alcançar o mínimo exigido na prova de vestibular.
ESPAÇOS ENTRE AS PALAVRAS  -  Os espaços em branco entre as palavras é outro recurso muito usado por quem tem dificuldade de escrever. Acontece que os professores encarregados da correção conhecem bem esse truque. Por isso, se você, naturalmente, escreve assim, tente evitar os espaços exagerados entre as palavras. Se não for possível, escreva uma dissertação com bastantes linhas.
LETRA MUITO PEQUENA  - Há alunos com letra tão reduzida que, dependendo do caso, o professor, mesmo de óculos, não consegue ler. Pior ainda: o próprio aluno, quando questionado sobre o que escreveu, também não consegue.
LETRA ILEGÍVEL -  Às vezes, o aluno demonstra que vai fazer vestibular para Medicina por meio da caligrafia: letra de médico. Para decifrá-la, só pedindo ajuda ao pessoal que trabalha em farmácias. Não se trata de letra feia, mas de escrita ilegível. A sua letra pode ser feia e legível. Neste caso, tudo bem. Dissertação não é um concurso de caligrafia.
INOVAÇÕES EM ALGUMAS LETRAS  - Veja se você tem este problema. Alguns alunos exageram na perna do "g" ou do "j", fazendo que ultrapassem os limites da entrelinha, causando transtornos a outras palavras da linha inferior. Fenômeno idêntico acontece à perna do "l" ou do "t", só que no sentido inverso.
O "m", o "n" e o "u" são idênticos, dificultando a leitura de algumas palavras, numa confusão que nem o próprio aluno entende.
Bem, como o alfabeto contém 24 letras e você tem problemas apenas em 7 delas, não há necessidade de enfrentar os "cadernos de caligrafia". Melhore apenas aquelas que enfeiam ou enfeitam a sua escrita.

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